O Futuro da educação será negro - debate sobre o futuro da aprendizagem humana

EDUCAÇÃO E SOCIEDADE EM REDE


Resumo das 6 teses que nesta postagem serão expostas: 
1. As novas TIC permitiram acesso generalizado e instantâneo a informação tendencialmente infinita. (Cf. conceito "information overload" de Alvin Toffler).
2. O resultado é um excesso de informação e a disseminação de informação desqualificada e irrelevante ou a disseminação de informação «fake».
3. A circulação no sistema-mundo desta «má-informação» aumenta a Entropia. A propagação instantânea e massiva de «má-informação» tenderá a destruir quaisquer processos de aprendizagem.
3.1. O «Apocalipse» descrito por Umberto Eco (Cf. a tese de “Apocalípticos e Integrados”) será a norma, porque a evolução natural dos sistemas comunicacionais baseados na velocidade e disseminação de conteúdos fake ou trash será a Entropia.
4. No futuro, a marxista «luta de classes» será a «luta de classes de aprendizagens/alunos»:
4.1. Sabemos com a segunda lei da termodinâmica que a Entropia só é resolvida com «informação/conteúdos de qualidade» -  os futuros combates será pelo «acesso» a tão relevante informação
4.2. No futuro (ou hoje) assistiremos a uma valorização extrema da «Informação de Qualidade» (ou informação privilegiada).
5. No futuro a qualidade dos processos de aprendizagem radicará nas «aprendizagens significativas» em conluio com «conteúdos de extrema qualidade» que por natureza serão de acesso restrito.
6. Paradoxalmente a solução para este estado de Entropia (causada pelo excesso comunicacional) será a informação (começando por saber onde localizá-la e, posteriormente, saber como aceder-lhe).



Debate: Qual o futuro da aprendizagem humana?
As 4 questões propostas na Atividade 5 e 6 da Unidade Educação e Sociedade em Rede: 
1. Em que medida a aprendizagem humana está a ser alterada pela própria transformação cada vez mais acelerada da sociedade?
2. Há vinte anos atrás, o futuro da aprendizagem era uma longínqua suspeita daquilo em que se transformou.
3. E de hoje a vinte anos?
4. Porque iremos aprender? Onde e como iremos aprender?

Debate: Qual o futuro da aprendizagem humana?
O Futuro negro da educação: 

1. Em que medida a aprendizagem humana está a ser alterada pela própria transformação cada vez mais acelerada da sociedade?
Ao analisar as leituras futuristas que foram (e ainda são) centrais nas sociedades capitalistas e que se intensificaram com a evolução tecnológica pós-1970, Paul Virilio propôs a tese de que a velocidade (de circulação de bens e informação) está na base da sustentação socioeconómica e cultural das sociedades contemporâneas. A velocidade será a base da inovação tecnológica - em todas as esferas, em todas as escalas organizacionais, nos mais distintos processos, fluxos, modos e estilos de vida. O paradigma atual é o da instantaneidade.
É neste sentido que a “economia política da velocidade” (expressão do mesmo autor) se assume também como um dispositivo cultural de enorme abrangência, a ponto de se tornar parte integrante do ideário e do referencial da “qualidade de vida”.
Para parte da população, torna-se “insuportável” viver sem acesso à rede de telemóvel e à internet, pois já se habituou a “conseguir” reduzir o tempo “despendido” em várias atividades, incluindo no contacto com o «Outro» e na deslocação (para trabalho ou Turismo). Mas tornou-se também “insuportável” e “intolerável” a espera no trânsito, a cedência de passagem não assinalada (ou obrigatória, como nas horas de ponta nas rotundas em zonas urbanas), a necessidade de reduzir a velocidade ou de parar. Tais esperas são ainda mais “insuportáveis” se pensarmos que os espaços físicos em que vivemos, feitos de deslocações efetivas em carro, motociclo, autocarro, ou outro veículo são bem diferentes, mais confusos, salientes e ambíguos, do que qualquer outro espaço virtual a que cada vez mais nos habituámos nas “autoestradas da informação”.
E com as “autoestradas da informação” a quantidade de informação a processar tornou-se ciclópica e por isso a informação será cada vez mais irrelevante. O segredo que valerá ouro radicará, então, no acesso a informação de qualidade, informação privilegiada que não nos faça perder tempo.

2. Há vinte anos atrás, o futuro da aprendizagem era uma longínqua suspeita daquilo em que se transformou.
Já em 1970, Alvin Toffler reflectiu sobre a "information overload" (sobrecarga informativa). No mítico “Choque do Futuro” (no original Future Shock), Alvin Toffler constatava que as sociedades (ocidentais; mais desenvolvidas, segundos parâmetros do atual Índice de Desenvolvimento Humano) iriam passar por uma enorme mudança estrutural, uma revolução que as levaria de uma «sociedade industrial» para uma «sociedade post-industrial».
Esta alteração radicaria num ritmo acelerado da mudança tecnológica e social; iria sobrecarregar as pessoas, deixando-as “desligadas” e sofrendo de "stress e desorientação" – advindo um futuro em choque. Aliás, Toffler afirmou que a maioria dos problemas sociais seriam sintomas do choque do futuro (“Choque do Futuro”, no original Future Shock). Na discussão miúda dos componentes de tal choque, Toffler inventou o conceito "information overload" (sobrecarga informativa).
Em 1987 surge o «Apple Futureshock»[1] (Knowledge Navigator era o dispositivo físico idealizado): um conceito descrito pelo ex-CEO da Apple Computer, John Sculley (Cf. o seu livro de 1987, Odyssey) onde se descreve um dispositivo que pode acessar um grande banco de dados em rede de informações de hipertexto e usar agentes de software para ajudar na busca de informações – hoje sabemos ser um (tablet) iPad. O choque causado por "information overload" previsto por Toffler, confirma-se.

3. E de hoje a vinte anos?
Por motivos mais do que mediáticos, optamos pela data ícon de 2030:
Em texto recente, o mitíco Tim Berners-Lee[2], que publicara em 1990 um texto que suscitou a atual World Wide Web, analisa e prevê o futuro próximo (1930) da WWW.
[A futura divisão de classes e a futura luta de classes:]
Para Berners-Lee, a web acabou por tornar-se uma praça pública, uma biblioteca, um consultório médico, uma loja, uma escola, um estúdio de design, um escritório, um cinema, um banco e muito mais.
É claro que com cada novo recurso, com todo o novo website, acentuar-se-á a divisão entre aqueles que estão online e aqueles que não estão, tornando ainda mais imperativo disponibilizar a web para todos.
E enquanto a web criou oportunidades, deu voz aos grupos marginalizados e facilitou nossa vida cotidiana, também criou oportunidades para os activistas, deu voz àqueles que espalham o ódio e tornou todos os tipos de crimes mais fáceis de cometer.
No contexto de notícias sobre como a Web é mal utilizada, é compreensível que muitas pessoas sintam medo e insegurança quanto à possibilidade da Web ser realmente uma força ao serviço do bem comum.

[O surgimento de um novo fascismo comunicacional:]
Tim Berners-Lee destaca três fontes de disfunção que afetam a web de hoje:
1. A intenção deliberada e maliciosa: como ataques e hackers patrocinados pelo Estado, comportamento criminoso e assédio online.
2. Surgirem sistemas/plataformas de informação que criam incentivos perversos onde o valor do usuário é sacrificado (é o  caso de modelos de receita baseados em anúncios que recompensam comercialmente a procura de “cliques”) e a disseminação viral de informações erradas (informações «fake»).
3. Consequências negativas não intencionais do activismo bem intencionado, como o tom indignado e polarizado e a qualidade do discurso on-line.

[Que Fazer?:]
Como se sabe, a luta pela web é uma das causas mais importantes do nosso tempo. Hoje, metade do planeta está online. É mais urgente do que nunca garantir que a outra metade não seja deixada para trás no modo offline e que todos contribuam para uma web que promove a igualdade, a oportunidade e a criatividade.

4. Porque iremos aprender? Onde e como iremos aprender?
Encontramos vozes[3] que apontam caminhos destacando o papel redentor da Educação. Não descurando que Educar-nos é aceder a «informação de qualidade» e incorporá-la num processo do «auto conhecimento» conforme a máxima délfica inscrita no pronau do Templo de Apolo em Delfos, Grécia Antiga – conhece-te a ti mesmo).
Aprenderemos com as TIC e com os processos das «Aprendizagens significativas».


Referências Bibliográficas:
Berners-Lee, T. (2019). Where Does the World Wide Web Go From Here?” (Wired, 03/11/2019). Consultado em 26/01/2020. No website Wired: https://www.wired.com/story/tim-berners-lee-world-wide-web-anniversary
Eco, U. (1965). Apocalipticos e integrados. Madrid: Editorial Lumen.
Heppell, S. (8 de outubro de 2008). The Future of Learning [Video file]. Consultado em https://www.youtube.com/watch?v=ejv4TFfE8vE
Purnell, J. (2006, 11 de dezembro). Apple Futureshock [Video file]. Consultado em https://www.youtube.com/watch?v=3WdS4TscWH8
Virilio, P. (1993). A Inércia Polar. Lisboa: D. Quixote.
Virilio, P. (2011). The Semantic Sphere 1. London: Sage.


[1] Purnell, J. (11 de dezembro de 2006). Apple Futureshock [Video file]. Consultado em https://www.youtube.com/watch?v=3WdS4TscWH8
[2] Berners-Lee, T. (2019). Where Does the World Wide Web Go From Here?” (Wired, 03/11/2019). Consultado em 26/01/2020. No website Wired: https://www.wired.com/story/tim-berners-lee-world-wide-web-anniversary
[3] Heppell, S. (8 de outubro de 2008). The Future of Learning [Video file]. Consultado em https://www.youtube.com/watch?v=ejv4TFfE8vE

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